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Mobilidade e imobilidade nas cidades

Tema: Mobilidade e imobilidade nas cidades.
Veículo: Diário da Manhã
Número: 10.750
Página: 17
Caderno: Opinião Pública
Data: 20/03/2017

 

Mobilidade e imobilidade nas cidades

 

As discussões sobre mobilidade nas cidades têm conquistado espaços cada vez maiores, com perspectivas de soluções ou, no mínimo, de enfrentamento do problema. Questões como a quantidade e qualidade das vias, os sentidos de tráfego, os modais - principalmente voltados para transporte público -, a malha viária, a identificação de origem e destino de pessoas, dos carros e cargas, a quantidade de automóveis, a educação no trânsito e a  poluição são temas que ganham destaque quando a mobilidade ganha o prefixo indicativo da falta dela. Quando uma solução se torna problema, não resta outra coisa a fazer se não buscar uma solução para os problemas de mobilidade, que em si é uma solução para se viver nas cidades.

São Paulo reduz o problema da quantidade de carros nas ruas adotando o rodízio - em horários específicos determinados automóveis estão impedidos de transitar, organizados pelos números de placas -, além de reduzir a velocidade em determinadas vias. Paris já impediu o trânsito de automóveis em determinados dias, para reduzir a poluição. Roma proibiu o trânsito de carros no centro histórico, como medida de proteção ao patrimônio. Brasília muda o sentido de algumas vias em determinados horários, observando o maior fluxo na cidade. Dentre os enfrentamentos do problema, ideias como alterar sentidos de vias, aumentar a quantidade e ampliar as vias, mudar horários de trabalho regulando fluxos, buscar modais diferentes - como bicicletas, motocicletas, ônibus, metrô, BRT (Bus Rapid Transit), VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) - e usar a tecnologia para melhorar os fluxos, problematizam a questão da mobilidade urbana, propondo soluções de várias ordens, desde as vias, os veículos e os fluxos.

O uso do modal bicicleta se tornou vedete nessas discussões, embora o veículo em si não resolva o problema, do mesmo modo que um carro em si não é o problema. Para o carro há a necessidade de vias, sinalização, rotas, regulação e ordenamento de fluxos, além de infraestrutura de apoio, como postos de combustível, oficinas, borracharias, além de um sistema de capacitação e educação dos usuários. Para bicicletas não é diferente. Não basta criar ciclovias ou ciclofaixas, é preciso possibilitar o uso da bicicleta, a partir de uma infraestrutura urbana capaz de apoiar esse uso, fazendo de fato surgir daí uma alternativa de deslocamento na cidade. Ações como disponibilizar ciclofaixas em horários específicos nos fins de semana e mesmo oferecer um sistema de bicicletas compartilhadas não resultarão em melhoria da mobilidade urbana, estas ações estão claramente voltadas para o uso de bicicletas como lazer ou, no máximo, como modo exercício físico, mas definitivamente não são ações sobre mobilidade.

Atualmente o cidadão perde muito tempo em seus deslocamentos urbanos. Por vezes a espera em pontos de ônibus responde por grande parte desse tempo perdido, do mesmo modo que nas retenções e congestionamentos do trânsito. O problema da mobilidade requer o enfrentamento devido, de modo inteligente e determinado. Se a tecnologia ajuda o usuário a se organizar, otimizando seu tempo em deslocamento, ela também auxilia os gestores a planejar, executar e corrigir as regulações. A informação pode e tem sido uma grande ferramenta para reduzir os problemas de mobilidade urbana, ou da falta dela. Aplicativos que indicam áreas de retenção e oferecem rotas alternativas são exemplos, do mesmo modo que aplicativos que informam ao usuário do transporte coletivo em quanto tempo passará seu ônibus ou metrô. Monitoramento do tempo médio de espera, de deslocamento pela cidade, identificação de gargalos no trânsito, com indicação de locais e horários, são informações que possibilitam a tomada de decisão para modelos mais racionais de deslocamento nas cidades, evitando que se chegue a soluções de proibição do uso de determinados modais.

Do outro lado, um sistema racional e inteligente não resolve o problema se os usuários não respeitarem tais fluxos. Atravessar cruzamentos com sinal fechado, desrespeitar regras simples de convivência no trânsito, não usar a seta indicando conversão, dispensar passarelas e faixas de pedestres para se  aventurar nas vias são problemas que atingem a mobilidade, e constituem prática danosa para a inteligência das cidades.

Uma cidade inteligente diversifica os modos possíveis de deslocamento, buscando na informação a base das políticas implementadas sobre o tema, com uma infraestrutura capaz de orientar os fluxos de pessoas, na complexidade do ir e vir contemporâneo. Cidadãos inteligentes compreendem que a cidade é um espaço compartilhado, e a educação no trânsito é instrumento simples de civilidade, tendo os usuários como maiores responsáveis em sua implementação, qualquer que seja o modal usado. Uma cidade em movimento precisa de soluções de mobilidade, condição para permanecer em movimento. Informação e educação são um caminho pavimentado para soluções de mobilidade, com fluxo em via de mão dupla: da infraestrutura da cidade para o cidadão e do cidadão para a cidade.

 

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