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Novas fronteiras: os ventos de 2019

Tema: Novas fronteiras: os ventos de 2019

Veículo: Diário da Manhã

Número: 11.401

Página: 21

Caderno: Opinião Pública

Data: 07/01/2019

Uma fronteira não é exatamente um limite, mas aquilo que está mais à frente de uma área, incluindo área de conhecimento, compreendendo uma faixa ou região. Uma fronteira, cujo último ponto é a linha imaginária ou não, chamada limite, designa também um local de convívio, de mesclas. A fronteira do humano, a fronteira política de um povo, a fronteira da ciência, a fronteira brasileira, todos são exemplos de como a fronteira pode ser mais que uma limitação, ser uma zona de avanços, de estado-da-arte de um tempo.

Em um novo ano, com novos governos, novas concepções sociais e culturais, novas fronteiras se formam, ampliando ou não as áreas que chamamos de limítrofes. As cidades, em conglomerados urbanos, são conurbadas, fazendo perder as fronteiras, tornando o conjunto um só corpo, ainda que política e geograficamente se definam os limites fronteiriços de cada uma delas. Mas o cidadão, em seu dia a dia, enxerga mais a continuidade e a unidade, como fazem os pássaros, que o limite que separa, como impõe nosso boleto de IPTU. E neste ano de 2019, novas fronteiras parecem se impor, em uma infinidade de setores e áreas.

Na política, governos estaduais e o federal se deparam com novas demandas sociais e culturais, que bradam a emergência de um novo tempo. Além de segurança, saúde e educação, novas fronteiras se desenham, situadas em discursos e ações que envolvem moral, religião, economia e, claro, tecnologia. E se enganam aqueles que pensam que a extinção do Ministério da Cultura fará da cultura algo menor. A cultura é uma emergência social, jamais se prenderá a um órgão, embora sua orquestração auxilie, e muito, no desenvolvimento harmônico. A cultura perde um ministério, Goiás ganha uma Secretaria da Cultura, revelando não exatamente uma oposição, mas alinhamentos e proposituras que ensejam novas fronteiras: identidades e desenvolvimento.

A fronteira ideológica assume outra direção, nos ventos que sopram 2019. A mudança do leme e dos ventos não eliminam a existência de uma diretriz, de modo que imaginar a exclusão de uma ideologia é tão fantasioso quanto pensar em parar de pensar. A mudança de rumos não elimina a concepção de uma ideologia, apenas assume-se outra.

A fronteira das ciências, ainda que se enxergue ameaçada por pensamentos dogmáticos, vinculados ao criacionismo e às concepções religiosas de verdade e moral, forçam, pela tecnologia, seu desenvolvimento, no mesmo ritmo do pulsar internacional que sustenta a sociedade contemporânea. As ciências carecem de desenvolvimento, investimento e avanços, fundamentais não apenas para garantir o avanço das fronteiras, mas mesmo para mantê-las onde estão, sem o prejuízo do atraso e da involução social.  O maior vetor do desenvolvimento social na contemporaneidade é o avanço científico e tecnológico.

A inteligência é a nova fronteira do capital e do social. A inteligência é o modo de organizar e produzir mais. É o modo de depender menos, de equilibrar mais. A inteligência suplanta as restrições econômicas, gerando riquezas pela criatividade, inventividade. A inovação é o vórtice que força a fronteira, criando zonas de diálogos entre tempos e espaços, entre o novo e o antigo.

A inteligência identifica que faz parte da natureza humana a noção de erro, e de o humano ser corruptível. Baseado nessa premissa, será mais eficiente usar a tecnologia para reduzir as oportunidades do pecado se instalar, que querer extirpá-lo da condição humana. E a inteligência tecnológica sangra o jeitinho brasileiro, eufemismo para ilegalidade, gerando dados abertos, apresentados em portais da transparência, e implantando sistemas que eliminam das mãos humanas  a primazia de tramitar processos e gerar informações. Oxalá tenhamos sistemas que otimizem as ações dos três poderes, em suas várias esferas, em uma nova geometria, com aparas que retirem as arestas que tanto machucam a alma social brasileira. Oxalá tenhamos a inteligência de enxergar que o caminho do desenvolvimento não é a crença, mas a verdade.

As novas fronteiras impelem os governos para novas propostas, do mesmo modo que a fronteira tecnológica faz emergir as humanidades digitais, como condição da inserção das áreas humanas e sociais no novo olimpo intelectual: a baliza digital. Não exatamente por modismo, mas pela condição social e cultural de um tempo, de o humano ter concebido uma nova condição ontológica, fundada na noção de expansão do corpo e mente, da sua força e da sua capacidade, encarnada em robôs e chips, em uma semiosfera que clareia o lado oculto da lua, que projeta nanorrobôs e a melhora dos alimentos, e mesmo que afirma que o primeiro humano imortal já pode estar chorando entre nós, mortais, desejantes da Fonte da Juventude e da Pedra Filosofal. Mas a fonte que força a pedra é, sem dúvida, a tecnologia, que define as novas fronteiras sociais.

O entorno de Brasília, região goiana que padece de vários males, pode encontrar sua lenda pessoal na ciência e na tecnologia, como tem feito a UnB, ao implantar o câmpus UnB Gama como propulsor de uma nova fronteira de conhecimento e formação. Ou como a UFG, com seu câmpus Aparecida de Goiânia, direcionado para Ciência e Tecnologia, aprendendo e ensinando a gerar futuro. Os novos ventos podem estar em túneis dedicados à pesquisa, como Furnas fez, também, em Aparecida de Goiânia.

As novas fronteiras da comunicação já mudaram a face, os produtos e as teorias da área, solidificando um mercado que namora as nuvens, mas que se prendem em cabos ópticos que circundam a terra várias vezes. A novas frequências pulsam na cadência ampliada do digital, enfeitiçando os atentos e analógicos olhos humanos, espelhos da alma inquieta de nosso tempo.

As novas fronteiras de 2019 exigem novos braços fortes, novos brados retumbantes e, mais que a glória do passado e a paz do futuro, o posicionamento firme do impávido colosso, para que tenha a grandeza não apenas geográfica, mas também da propositura de seus filhos, que teimam em se amamentar, e não de cuidar, de uma já velha mãe chamada Pátria.

Que bons ventos soprem 2019, ajustando as novas fronteiras, amplas, em cujos horizontes se desenham um mar de oportunidades e, igualmente, de ameaças. Saibamos nos embalar no berço, ainda que esplêndido, sem nos acharmos príncipes e princesas que carecem de cuidados, mas como filhos atentos a uma mãe terra amada, que por sua riqueza vermelha, uma árvore de caule cor de brasa, foi chamada Brasil.

As novas fronteiras políticas, culturais, sociais, tecnológicas e científicas são um espelho de nós mesmos, reflexo de nossa inteligência enquanto corpo e mente sociais, resultado de ações coletivas, no sistema democrático que nos identifica como nação. Seus lastros, rastros e flâmulas não são exatamente o que queremos ser, são o que somos: aquilo que não enxerga suas fronteiras, porque os olhos são dispostos para vermos o que está adiante, e não os limites de nosso corpo. Assim são nossas fronteiras: um front, uma frente que, adiante, adianta o tempo, forjando espaços em que não estou, ainda, mas que podemos chegar em breve e a passos largos, se nossos passos seguirem na direção que enxergamos, ao futuro que inventamos e construímos. Fronteiras não são limites, mas aquilo que está mais à frente.

Leia o artigo publicado. 

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