Link Coluna 10-12-2018 - Lição de Cidadania

Lição de cidadania

Tema: Lição de Cidadania

Veículo: Diário da Manhã

Número: 11.376

Página: 14

Caderno: Opinião Pública

Data: 10/12/2018

Os espaços dedicados à produção de produtos tridimensionais, da não tão nova cultura do faça você mesmo, ganharam ares renovados com a denominação de espaços makers (do inglês maker, criador) ou makerspaces, centrados em itens como impressora 3D, kits de robótica e máquinas de corte a laser, além de uma criatividade ilimitada. A mais famosa investida nessa prática são os Fab Labs (laboratórios de fabricação), marca registrada do Media Lab do Massachusetts Institute of Technology, o MIT, que formam uma rede de compartilhamento de projetos, além dos espaços makers espalhados pelo mundo.

Na prática, os laboratórios são abertos ao público,  possibilitando que qualquer pessoa possa levar sua ideia e fabricar seu produto, mediante o pagamento dos custos do projeto. O foco desses laboratórios é o desenvolvimento de protótipos que possam ser testados, levando para produção em massa quando validados os modelos, além da fabricação de produtos personalizados. Com custos muito abaixo do mercado tradicional, esses laboratórios preenchem um espaço de produção situado entre o artesanal e o industrial, fazendo da criatividade sua principal matéria-prima. O resultado são produtos inovadores, com alto potencial de mercado e baixo consumo material, além da inserção de milhares de pessoas no processo fabril da chamada economia criativa.

A cidade de Aparecida de Goiânia inovou, com seu MiniLAB Cidadão, o modelo do espaço maker. O projeto contempla um espaço maker central ou modelo, mantido pela prefeitura, e os mini laboratórios, localizados nas associações de bairros. O espaço maker é dotado de impressora 3D, máquina de corte a laser e uma série de outras ferramentas, como serra tico tico, mini retífica e lixadeira. Já os kits do MiniLAB Cidadão, com 26 ferramentas doadas pela prefeitura para as associações de moradores do município, são compostos por ferramentas elétricas e convencionais, como pulverizador elétrico, mini retífica, lixadeira, furadeira e parafusadeira etc, e estão disponibilizados nos bairros, em sistema de compartilhamento, para uso dos cidadãos. Isso significa que, além de um centro de referência, o projeto atua com uma capilaridade que alcança a casa dos cidadãos, que podem buscar as ferramentas nos MiniLABs e levá-las para casa, para reparos e serviços rápidos. A retirada ocorre após o cadastro do usuário e o pagamento de uma taxa simbólica de manutenção, cujos valores são de R$ 0,50 e R$ 2,00, de acordo com o equipamento requerido.

O MiniLAB Cidadão Modelo oferece, além do acesso aos equipamentos para o desenvolvimento de projetos e a fabricação de produtos, cursos de criatividade e de operação dos equipamentos, compondo a noção de espaço maker, dedicado ao fazer, e espaço thinker, dedicado ao pensar esse fazer. Como primeiro município a ter esse serviço, Aparecida sai na frente na atualização de demandas vinculadas aos novos processos de fabricação, fornecendo acesso direto do cidadão a essa tecnologia. A diferença fundamental entre o Fab Lab e o MiniLAB Cidadão é que, enquanto o primeiro forma uma rede mundial de espaços, com compartilhamento de projetos, o segundo forma uma rede com o cidadão, compartilhando espaços, projetos e experiências do exercício de cidadania.

A perspectiva do projeto de Aparecida, mais que oferecer ferramentas e cursos, é exercitar o compartilhamento e a cidadania, permitindo que os munícipes enxerguem que, como as ferramentas que podem ser de uso coletivo, a cidade é um bem coletivo, que deve ser mantida e organizada por todos, como espaço compartilhado e pertencente a todos. É nesse sentido que o projeto MiniLAB Cidadão é, também, uma lição de cidadania, e das grandes.

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